No último dia 18 de maio foi lembrado o Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. A data marca uma luta diária da sociedade brasileira: a proteção de crianças e adolescentes contra os crimes de abuso e exploração sexual.
A escolha do dia foi em alusão ao crime ocorrido no Espírito Santo, em 1973, que vitimou a menina Araceli Cabrera Crespo, sequestrada, violentada e assassinada aos oito anos de idade.
Em Mato Grosso, dados divulgados pela Superintendência do Observatório de Segurança Pública da Secretaria de Segurança Pública (SES-MT), apontam uma triste realidade. Entre os meses de janeiro e abril deste ano, os números de estupro de vulnerável alcançaram 331 ocorrências e de estupro 53. Já os crimes de assédio sexual tiveram 27 registros e de importunação sexual 52 ocorrências.
De acordo com a estatística do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), a cada hora, quatro meninas menores de 13 anos são estupradas no Brasil.
Do outro lado, psicólogos especializados na questão estão preparados para ouvir, acolher e ajudar a enfrentar essa que é, sem dúvida, uma das piores experiências pelas quais um ser humano pode passar.
Para crianças mais reservadas e retraídas, observar os desenhos pode ser um recurso muito significativo. A criança expressa através dos desenhos o que estão sentindo ou vivendo. Por exemplo, desenho que aparece parte genitais evidente são indicativos de abuso
Ao O Bom da Notícia, a psicóloga infantil Flaviane Pires explicou a importância dos pais se atentarem na mudança de comportamento dos filhos como, por exemplo, mudança de humor, interação social, prejuízo escolar, medos em geral e alteração no sono e apetite.
Além disso, a psicóloga aconselha os pais observarem os desenhos dos filhos, uma vez que eles podem dizer muita coisa.
“Para crianças mais reservadas e retraídas, observar os desenhos pode ser um recurso muito significativo. A criança expressa através dos desenhos o que estão sentindo ou vivendo. Por exemplo, desenho que aparece parte genitais evidente são indicativos de abuso”, detalhou.
Vale lembrar que a maioria das ocorrências, tanto com crianças quanto com adolescentes, ocorrem dentro de casa e os agressores são pessoas do convívio das vítimas, geralmente familiares. O estudo também mostra que a maioria das violências é praticada mais de uma vez.
Neste caso, a psicóloga orienta os pais a prestarem mais atenção na mudança de comportamento que a criança vem a ter com algum membro da família. “Quando isso acontece, a criança tem uma tendência de evitar a pessoa e muda o comportamento na presença da mesma, ficando assustada e com medo. Por isso, quando ocorre os pais precisam identificar e respeitar o comportamento da criança que pode significar um pedido de ajuda”, diz.
Contudo, em alguns casos o comportamento pode ser totalmente diferente, uma vez que o abusador manipula a criança dando presentes, dinheiro, atenção, até que por fim, ganha a confiança.
“Por isso é importante ensinar e orientar as crianças que elas precisam confiar em seus pais ou cuidadores, que precisam compartilhar de tudo que acontece com elas, que não existe segredos entre pais e filhos. Mas para que isso aconteça, a criança precisa ser ouvida, acolhida e jamais ser ignorada sobre alguma mudança de comportamento. E sempre validar o discurso da criança”, finaliza a psicóloga.
A delegada Mariell Antonini Dias, da Delegacia da Mulher, Criança, Adolescente e Idoso (DEDMCI) de Várzea Grande, aponta que o principal crime contra a dignidade sexual de crianças e adolescentes é o estupro de vulnerável, cometido com predominância contra vítimas do sexo feminino e em sua grande maioria por familiares próximos ou amigos que tenham livre acesso a elas.
Ela alerta que em caso de identificação de qualquer comportamento diferente, o adulto deve monitorar a criança ou o adolescente, a fim de acompanhá-lo e averiguar se pode ser algum outro problema ou realmente se refere a abusos sexuais sofridos.
“Se a criança apresentar espontaneamente o relato de que sofreu violência, de qualquer espécie, é importante que essa pessoa receptora da informação adote uma postura ativa, de comunicar o fato às autoridades policiais. Havendo delegacia de proteção à criança e adolescente, que procure esta unidade especializada para que os procedimentos legais sejam adotados”, orienta Mariell.