A remoção da obra de Wlademir Dias-Pino, da Praça 8 de Abril, mais conhecida como a Praça do Chopão vem causando há pelo menos dois dias, protestos ininterruptos pelas redes sociais. Com fortes críticas destes atores da cena cultural mato-grossense, ainda pelo aplicativo WhastApp, nos mais diversos grupos, desde de jornalistas até de escritores e artistas.
No lugar foi colocada uma fonte de água luminosa que está sendo classificada por muitos artistas como 'uma geringonça'.
Para Gervane de Paula, considerado como um dos grandes nomes das artes plásticas do país, há uma possibilidade remota do retorno da obra de Wlademir Dias-Pino, levando-se em consideração a atuação dos representantes institucionais da cultura da capital. "A ideia que se tem é que o secretário de Cultura [Francisco Vuolo] e seu adjunto [Justino Astrevo] nem perceberam o crime cultural que o município cometeu ao artista internacionalmente conhecido e respeitado[...]Coisas que por aqui neste picadeiro eterno não se reconhece[...] deveriam muito antes justificar o sumiço da obra de Wlademir", ainda diz o artista cuiabano.
Ou ainda Glorinha Albuês, um dos grandes nomes do audiovisual mato-grossense, que está chamando pessoas ligadas à cultura de Mato Grosso, para que protestem até que a obra do artista volte para o seu lugar de origem.
Por meio de nota, a Secretaria de Serviços Urbanos da capital, responsável pela revitalização da Praça, revelou que a peça - ao contrário do que se acreditava, em princípio, que teria sido removida para a restauração - revela que ela deverá ser realocada em outro ponto ou levada a outra praça do município.
Na nota a secretaria ainda garante que a peça estaria guardada e em segurança. E que foram tomados todos os cuidados necessários para que a retirada não causasse nenhum dano ao material. (Veja abaixo a nota na íntegra)
Wlademir Dias-Pino é um dos poetas mais consagrados do Brasil e tem suas obras admiradas e estudadas mundo afora. Ainda que tenha nascido no Rio de Janeiro, mudou-se para Cuiabá ainda criança em 1936. Ele morreu no Rio de Janeiro, aos 91 anos, no final de agosto do ano passado, em decorrência de uma pneumonia.
Sua busca por uma poesia que pudesse ser entendida e assimilada universalmente tem início com o intensivismo. É do movimento que nasce o livro, A AVE. Concebida em 1948, A AVE só é lançada oficialmente em 1.956. Todos os 300 exemplares foram feitos à mão por Wlademir, e sua forma revolucionária o consagraria como o precursor da poesia visual. A AVE trata-se de um livro com transparências, perfurações e gráficos, que podiam ser interpostos pelo leitor para criar novos sentidos. É o primeiro livro-poema de que se tem registro na história da arte. Uma visualidade radical que confirma o vanguardismo da sua concepção artística.
Além de poeta, Dias-Pino também atuou como artista plástico, tipógrafo e designer. Partindo de um fluxo verbal-tipográfico característico da poesia concreta, chega ao gráfico-estatístico, segundo uma lógica probabilística, ao abrir mão da palavra e substituí-la por outros códigos visuais.
De acordo com o escritor e jurista, Eduardo Mahon, em conversa com o site O Bom da Notícia, Wlademir é o poeta visual mais aclamado pela crítica especializada brasileira e ainda de vários países. "Junto a Silva Freire, lançou em Cuiabá o movimento intensivista. Dias-Pino inspirou dezenas de escritores e artistas, recebeu da Universidade Federal de Mato Grosso, o título de doutor honoris causa. Recentemente, foi tema da exposição sobre a poesia visual no Brasil no Sesc de SP".
Ainda lembrando que Wlademir tem sido considerado como um dos maiores artistas da contemporaneidade no mundo. Fazendo um paralelo com nomes internacionalmente conhecidos como Almicar de Castro [escultor, gravador, desenhista, diagramador e cenógrafo. Em seus trabalhos, dá-se a passagem do desenho para a tridimensionalidade]. Ou Tomie Ohtake [pintora que passa da geometria das sombras ao círculo imperfeito da cultura nipônica ou à pintura formada na ideia de ordem do concretismo e do sensorial no neoconcretismo. A vontade construtiva surge no sistema de pintura de Ohtake como uma fissura em seu sistema de gestos no contexto das mentalidades do Ocidente e do Oriente]. E ainda Lygia Clark [pintora e escultora brasileira contemporânea, igualmente, um dos grandes nomes brasileiros do fazer artístico].
"Diante desta impiedade cultural só posso torcer para que recoloquem a obra de Wlademir como forma de garantir essa merecida lembrança", ainda diz Mahon.
Nota da secretaria
A respeito do monumento criado pelo poeta e artista plástico Wlademir Dias-Pino, a Secretaria de Serviços Urbanos, informa que:
- A peça está guardada e em segurança.
- A obra deverá ser realocada em outro ponto dali ou levada a outra praça do Município.
- Todos os cuidados necessários para que a retirada não causasse nenhum dano ao material foram tomados.