Índios xavantes da terra indígena Sangradouro, em Primavera do Leste, deram o primeiro passo rumo à independência e iniciaram na sexta-feira (11.12) o processo de preparação da terra para o plantio do arroz.
A iniciativa faz parte do projeto Independência Indígena lançado no ano passado e prevê a disponibilização de ferramentas para que eles produzam seus alimentos para subsistência e, posteriormente, comercialização.
O Independência Indígena é resultado de uma parceria entre o Governo de Mato Grosso com o Sindicato Rural de Primavera do Leste e Fundação Nacional do Índio (Funai). Ao todo serão beneficiados 2.700 mil xavantes de 57 aldeias situadas na terra indígena que abrange os municípios de Primavera, Poxoréu, General Carneiro e Novo São Joaquim. A área a ser utilizada para o plantio é de 999 hectares.
A segunda fase de gradeamento será iniciada nos próximos dias e a previsão é que a colheita do arroz ocorra em até três meses. No local também haverá plantação de milho e feijão, conforme explicou o cacique e presidente da cooperativa indígena da Grande Sangradouro e Volta Grande, Gerson Warawe.
"Nossa maior expectativa com esse plantio é mostrar para o mundo que a gente é capaz de produzir e ser independente, sem precisar buscar recursos na cidade. Tivemos algumas dificuldades no início, mas futuramente por meio dessa lavoura mecanizada alcançaremos o nosso progresso sem provocar o desmatamento ou danos ao meio ambiente ou ao ser humano", disse.
Créditos: Marcos Vergueiro/Secom-MT
O superintendente de assuntos indígenas da Casa Civil, Agnaldo Santos, pontuou que esta etapa marca uma fase na realidade do povo indígena em Mato Grosso.
"Superamos toda a parte burocrática após a autorização da Funai, autorização do Ibama e Ministério Público Federal de Barra do Garças. Além de auxilia-los na questão do plantio, também estivemos na região para distribuir cestas básicas por meio do programa Vem Ser Mais Solidário, conduzido pela primeira-dama Virginia Mendes. Este é momento em que terão a oportunidade de produzir para comer e depois vender", explicou Agnaldo Santos.
O líder da comunidade Sangradouro, Bartolomeu Partira, destaca que plantação para a subsistência é necessária para que a comunidade indígena se mantenha nos próximos anos e a atividade não interferirá na preservação da cultura e tradição.
"O plantio permitirá independência econômica para todas as aldeias. Ouvimos várias vezes que o índio, não quer trabalhar, mas isso não é verdade. Se nós temos terra, é preciso trabalharmos nela e contribuir também com o desenvolvimento do Brasil. Nesse mundo moderno precisamos mudar a nossa vida, sem deixar a cultura, cerimônia e rituais do nosso povo', afirmou.
O Sindicato Rural de Primavera vem auxiliando com maquinários e orientações sobre a forma correta de produção.
"Além do desenvolvimento econômico de forma integrada, contribuímos para o desenvolvimento pessoal de cada um deles. O sindicato auxiliou com o levantamento de receita para constituição dessa cooperativa que foi aportada pelos produtores rurais e não desistimos, mesmo em meio a dificuldades que surgiram para que chegássemos até aqui", contou o gestor administrativo do Sindicato Rural de Primavera, Renato Cozanelli.
Créditos: Marcos Vergueiro/Secom-MT
Ary Ferrari é produtor rural em uma área próxima as aldeias e destacou as dificuldades da população indígena que hoje se mantém com apoio de programas sociais.
“A nossa convivência é muito boa, eles cuidam da roça vizinha. As crianças passam muita necessidade e decidimos ajudar. Na aldeia Parecis esse projeto já está acontecendo e melhorando a qualidade de vida deles”.