Cerca de 80 jovens da Fundação Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente (Casa) disputam hoje (25) a final do IX Torneio Estadual de Futsal, no ginásio do Estádio Paulo Machado de Carvalho, o Pacaembu. Participam do campeonato adolescentes que cumprem medida socioeducativa em unidades da capital paulista e do interior do estado. Ao todo, oito times compuseram a chave da semifinal, resultado de uma eliminatória regional, com 11 divisões.
Conforme menciona o gerente de Educação Física e Esporte da instituição, Carlos Alberto Robles, a ação tem como princípio a inclusão e a socialização dos internos. "O objetivo maior é proporcionar que possam experimentar espaços, linguagens diferentes, porque, no dia a dia, nas comunidades, a maioria não pratica esse tipo de atividade", afirma ele, que está há 15 anos na função.
Rede de apoio
Segundo Robles, a grande dificuldade dos jovens ao deixar a fundação é serem verdadeiramente acolhidos, pois parte da sociedade tende a estigmatizá-los. "A rede de atendimento tem que ser um pouco mais ampliada, mais participativa quanto a esse adolescente no [período] pós-medida. Quando ele sai, tem que ter uma sequência dessas ações que estão sendo desenvolvidas internamente", pondera.
Karina*, de 18 anos, conta que começou a desenvolver interesse pelo futebol dentro da fundação, quando garotas com mais experiência na modalidade passaram a ensinar outras sobre o esporte. Para ela, é uma forma de ocupar a mente e de distraí-la da privação de liberdade.
A jovem deu entrada na fundação há um ano, depois de perder o pai. Com o ocorrido, afirma, perdeu o sustento e ficou abalada quanto à perspectiva do futuro. "Depois que ele morreu, minha família ficou desestruturada. Aí, eu parei de ir pra escola e o caminho que eu encontrei foi essa vida, pra poder ajudar minha família, minha mãe, meus irmãos", relata Karina, que tem oito irmãos.
"Eu era muito nova quando comecei nessa vida, eu era uma criança", acrescenta, mencionando que cometeu o primeiro delito aos 14 anos de idade.
Para ela, o que tem feito diferença é o tratamento dispensado por alguns profissionais da fundação, em especial sua psicóloga, em quem se espelha agora para seguir a mesma carreira. "Hoje, a gente já tá em 45 adolescentes lá e, muitas vezes, uma está mal, outra está muito nervosa. Então, uma palavra, já percebi isso, às vezes, uma palavra muda tudo", diz Karina.
"Teve uma professora que ajudou muito a gente. Porque muda [o quadro de professores], conforme o ciclo. Ela ajuda muito a gente, sabe. Tem pessoas lá, professores da escola mesmo, que não só escrevem na lousa, mas têm um diálogo. Eu agradeço muito a eles. Por isso, penso que é a educação que vai levar a gente pra frente", finaliza.
*O nome da entrevistada foi trocado, de modo a preservar sua identidade.
Fonte: EBC Geral