Que lições podemos extrair da partida recém-finda? Uma delas, é que ninguém ganha o jogo por antecipação. Não vale a tradição, o poderio econômico, a fama e o alto salário dos jogadores. Começado o jogo, o que vale mesmo é a disposição de luta do time tido como inferior.
A outra, é que os gigantes também tombam. Começado o jogo, ainda que a grande habilidade, [alguns são mesmos extraordinários], dos craques do time inicialmente mais poderoso possa representar vantagem expressiva, no entanto, nem sempre ela se torna decisiva para alcançar a vitória. Acabamos de assistir a dois eloquentes exemplos do que afirmo, e outros virão.
Ontem vimos a poderosa Argentina, [5ª no ranking da FIFA] do grande Messi [2º melhor do mundo], tombar ante a quase desconhecida Croácia [20ª], sem nenhum jogador entre os maiores do mundo. Antes, já tínhamos visto o Uruguai [bi campeão mundial, 14º na FIFA, com um dos melhores cracks da competição, L. Soares] penar muito para ganhar por 1 gol do desconhecido Egito [45º na FIFA].
E agora, acabamos de assistir o poderoso Brasil [2º no ranking da FIFA], que tem 11 brasileiros entre os cem melhores do mundo [segundo o The Guardian] suar e chorar para vencer a Costa Rica [23ª da FIFA], uma seleção novata em Copa do Mundo e sem maior expressão, e mesmo assim só tendo conseguido nos minutos finais, já nos acréscimos.
Está a lição maior: Não há poderosos, nem vitoriosos, por antecipação quando diante deles se antepõe um espirito aguerrido e determinado à luta. E não se ganha um jogo apenas pela vontade da torcida. Para quem serve a lição? Para todos nós. Mas certamente servirá mais ainda para os que, auxiliados por áulicos espalhados por todos os cantos, em seus arredores e na imprensa submissa, já cantam vitória por antecipação, habituados que estão ao domínio da vida pública.
Para emoldurar, vem-nos um verso do grande e majestoso Fernando Pessoa [13/06/1888 – 30/11/1935] que neste mês se comemora os 130 anos, e que é também um recado aos poderosos do momento e aos seus submissos:
“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares”.
Sebastião Carlos Gomes de Carvalho é advogado e professor. Membro da Academia Mato-Grossense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso e do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás