Em 21 de fevereiro, 1 hora da manhã, no Planalto Central brasileiro, uma estrela cintilante de brilho extraordinário, o poeta Ivens Cuiabano Scaff fez a passagem para o mundo celestial, depois de 30 dias de internação para uma cirurgia.
Poeta maior e ícone da cultura cuiabana e mato-grossense, deixa como legado uma vida de devotamento à sua família, aos seus pacientes e obra extraordinária, com muitos livros inéditos.
“Estamos inconsoláveis e sem o chão sob nossos pés. Ivens é um amigo querido, companheiro constante por mais de 40 anos, totalmente dedicado à sua família, aos seus pacientes e à Literatura e Cultura mato-grossense. Chegou em nossas vidas há mais de uma década antes da fundação da Entrelinhas Editora, que se orgulha de ser a sua casa publicadora. Terei que reaprender a caminhar sem a sua presença física, sem os conselhos do amigo amado e do poeta. Nos falávamos todos os dias. A sua presença entre nós, na editora, também era constante. Não conheço alguém que tenha amado tanto a cidade de Cuiabá e tenha prestado a ela tantas homenagens, durante a sua vida inteira”, conta a editora e amiga Maria Teresa Carrión Carracedo, que assina esta nota de pesar em nome de seus pais, de seus irmãos e todos os colaboradores da editora, que sempre sentiram Ivens como um familiar querido.
Precisamos agradecer a sua presença em nossas vidas e honrar o grande legado que o poeta, um ícone da cultura mato-grossense e cuiabana, deixou para todos nós, entre livros publicados e inéditos.
Ivens Cuiabano Scaff, nasceu em Cuiabá em 30 de setembro de 1951. Filho de Hid Alfredo Scaff e Lucina Cuiabano Scaff, personalidades de destaque na história e sociedade mato-grossense. Formou-se em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro, tendo exercido a atividade de médico e professor universitário na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e Universidade de Cuiabá (Unic). Ocupa a cadeira nº 7 da Academia Matogrossense de Letras.
Nas atividades culturais, atuou como: coordenador de Cultura da UFMT, conselheiro de Cultura da SEC-MT, coordenador do Comitê Educativo Unimed Cuiabá, conselheiro editorial da revista Vôte, colaborador da publicação Estação Bispo.
Teve as seguintes Premiações: Prêmio Esso de literatura para Universitários (classificados), Prêmio Jornal do dia de Crônicas carnavalescas, Prêmio da Secretária de Estado de Cultura com o livro “Uma maneira simples de voar”. Recebeu condecoração da Ordem do Mérito do Governo do Estado de Mato Grosso no grau Cavaleiro.
Obras publicadas pela Entrelinhas Editora:
— “Fragmentos da alma mato-grossense”, antologia (2003);
— “Uma maneira simples de voar”, ilustrada por Marcelo Velasco (2006);
— “O menino órfão e o menino rei”, ilustrado por Carlão dos Bonecos, Helton Bastos e Marcelo Velasco (2008);
— “Kyvaverá”, ilustrado por Jonas Barros (2011);
— “A mamãe das cavernas e a mamãe loba”, ilustrado por Marcelo Velasco (2012);
— “Asas de Ícaro: versos de enamoramento e seus antônimos” ilustrado por Adir Sodré (2015);
— “Embaúba: a história de uma árvore”, ilustrado por Ruth Albernaz (2020);
— “Haluares: 101 haikais & outros versos luares”, ilustrado por Ruth Albernaz (2021).
Publicou também: “Mil mangueiras”, edição do autor (1988); “Mamãe sonhei que era um menino de rua” (1996), “A fábula do quase frito” (1997) e “O papagaio besteirento e a velha cabulosa (1999), os três ilustrados por Wander Antunes e publicados pela editora Tempo Presente.
Entre os livros inéditos, sobre os quais trabalhou incansavelmente nos últimos anos, durante a após a pandemia, estão no prelo, na Entrelinhas, “Além Tordesilhas”, romance juvenil em forma de trilogia, com ilustrações de Léo Davi; “O menino chorão e o morro que era vulcão”, ilustrado por Gervane de Paula; “Assim também já é demais”, ilustrado por Zeilton Matos; “Ágata, a gata”, ilustrado por Wender Carlos. Deixou ainda vários livros de contos e poesias ainda inéditos.
Declaração do Ivens sobre os seus dois grandes amores, no livro “Uma maneira simples de voar”:
Entre dois amores
Tenho amor por uma rainha
e tento ser o seu peão
Nem sempre sendo capaz
É a ela que amo
Atento no calor dos dias
Sou dessa maneira feliz
Felicidade nervosa e sem paz
Mas quando vem a bruma
Amo uma sacerdotisa
Com angústia e alegria
É sim possível!
Cumprindo seus mistérios e rituais
Ciumentíssimas as duas
Fingem que não se conhecem
Nem se reconhecem rivais
Fiel eu sou
Não sei se loucura ou sina
Às duas. À quem mais?
As duas asas com que vôo
O nome da rainha, Medicina
O da maga, Literatura.