Em uma ação para conscientização da importância da agricultura familiar agroecológica e local contra a crise climática no dia 14 de novembro, cerca de 100 ciclistas de Alta Floresta, munícipio da região norte de Mato Grosso, Amazônia, participaram de um pedal do Movimento Pelo Clima, uma campanha de comunicação do Instituto Centro de Vida (ICV).
Com as inscrições limitadas e esgotadas e sob o mote da campanha de “Aqueça o Corpo, Não o Planeta”, os participantes percorreram um trajeto de 30 quilômetros na área rural do município com destino à comunidade Nossa Senhora de Guadalupe.
Os ciclistas inscritos receberam um kit com camiseta, garrafa d’água, adesivo, mochila e um selo de papel-semente de rúcula para plantar.
O pedal teve apoio da Prefeitura Municipal de Alta Floresta, 9º Comando Regional da Polícia Militar, Associação Guadalupe Agroecológica (AGuA) e das lojas de bicicletas Ninus Bike e Trairão.
A Prefeitura Municipal de Alta Floresta apoiou o evento através da Secretaria de Esportes e Lazer, Secretaria de Inovação e Desenvolvimento Econômico, Secretaria de Infraestrutura e Serviços Urbanos e Secretaria de Saúde.
BEM-ESTAR E QUALIDADE DE VIDA
O ponto de chegada foi na Savana de Pedra, espaço de eventos que conta com uma trilha ecológica e onde a Associação Guadalupe Agroecológica (AGuA) promoveu uma feira com exposição de produtos das famílias da comunidade.
Também foram realizadas vendas de cestas da agricultura familiar da região pela iniciativa Rota Local, projeto do ICV que busca apoiar na logística e comercialização no comércio de Alta Floresta, centro urbano da região.
Os compradores receberam, na semana seguinte ao evento, as cestas de produtos em suas casas.
Um kit de café da manhã dos agricultores e agricultoras foi oferecido para venda, além de café, água e frutas foram disponibilizados gratuitamente para os ciclistas.
Além de um espaço especial para fotografias, os esportistas também puderam participar de duas atividades turísticas: uma trilha ecológica na Savana de Pedra e um passeio no Ponto Agroecológico (PAE), ambos conduzidos pelos moradores da comunidade e com direito a conversa sobre os impactos da crise climática.
Patrícia da Cruz é professora de biologia e participou do evento. “A vista foi maravilhosa, o percurso também. As paradas foram estratégicas. Foi cansativo, sou nova no pedal, mas valeu a pena”, comentou.
O empreendedor Sérgio dos Santos, também ciclista iniciante, aproveitou o percurso pra curtir a vista da área rural do município e afirmou que a campanha e o evento despertaram seu interesse sobre ações contra a crise climática.
“O nosso dia a dia é corrido, a gente não para pra se inteirar tanto sobre essas questões importantes”, comenta. “Quando começou a campanha do Movimento Pelo Clima, comecei a interessar mais. Agora eu, Sérgio dos Santos, vou ver o que posso eu posso fazer a respeito”, disse o ciclista, que também fez a trilha ecológica da Savana de Pedra e deixou o pedido final: “Tem que ter outro evento desses.”
Para a diretora adjunta do ICV, Camila Horiye Rodrigues, a pandemia foi um alerta de um trabalho maior a ser feito com quem mora na cidade.
“É um trabalho de construção conectar a pauta da agricultura familiar e climática com quem está num ambiente de conforto urbano e que, às vezes, se liga pouco a essas questões ou então só percebe quando não tem aquilo acessível”, avaliou. “A pandemia também gerou esse alerta de mostrar que por trás dos alimentos, por exemplo, existe muita gente por trás.”
O turismo rural, defende a diretora, é uma das ferramentas para gerar, ao mesmo tempo, bem-estar aos moradores da cidade e renda à população rural.
Os agricultores familiares da região norte e noroeste do estado, afastada de grandes centros urbanos, sofreram grande impacto socioeconômico diante da crise sanitária que afetou a locomoção até a cidade e dificultou a comercialização dos produtos.
Para Lilian Andrade, diretora de educação e cultura da AGuA, o evento também foi importante por simbolizar uma retomada gradual de atividades presenciais de comercialização dos moradores da comunidade.
Os associados não promoviam feira há quase dois anos. “Então é um momento muito importante. Mais ainda por trazer pra pauta esse assunto tão importante que é o momento que estamos vivendo”, diz.
No local do evento, feito em espaço aberto, foram disponibilizados máscaras e álcool em gel para manutenção da segurança dos participantes.
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O casal de agricultores Adir e Marcilene da Silva levaram suas hortaliças orgânicas para a feira do evento. Para Adir, as conversas com os ciclistas foram ainda mais significativas que a mera venda dos produtos.
“Só de conversar e mostrar o trabalho que nós estamos fazendo aqui é muito bom”, comenta.
Sérgio foi um dos que atestou a qualidade da produção local e agroecológica. “A gente pensa que estamos ajudando-os, mas na verdade nós estamos nos ajudando. Porque sabemos que é um alimento diferenciado, orgânico, e impacta nossa saúde”, comenta.
MOBILIDADE ATIVA EM PAUTA
Em uma ação que surgiu como desdobramento da divulgação do evento e da campanha, os organizadores lançaram um abaixo assinado pela construção de uma ciclovia que una a comunidade rural à cidade de Alta Floresta.
O documento teve mais de 150 assinaturas apenas no evento.
Para Camila, para além do ciclismo, debater mobilidade ativa é uma questão social e o poder público deve ter um olhar aprofundado para a questão ainda mais no contexto atual.
“Quando falamos de ciclismo como atividade de lazer ele está num lugar de status social, mas não quando falamos de mobilidade ativa, que é a possibilidade de um trabalhador chegar no seu local de trabalho de bicicleta”, diz.
A diretora ressalta que é necessário que o poder público possibilite políticas onde a escolha individual dos cidadãos seja respeitada.
“Tanto no incentivo ao consumo de produtos locais e agroecológicos e/ou orgânicos quanto na locomoção pela cidade, deve ser uma escolha democrática e não um lugar de privilégio, e tem tudo a ver com ter políticas públicas para possibilitar um processo de mudança pessoal e coletivo”, diz.
Para o analista de Programa de Negócios Sociais e especialista em políticas públicas, Eriberto Muller, a pedalada é uma ação que coloca isso em pauta no município de Alta Floresta.
“Quando trazemos a sociedade civil pra prestar atenção à questão do clima, isso tende a provocar a gestão pública a começar a colocar isso na pauta política”, diz.
A ciclista Rogéria de Souza ressaltou a urgência e importância dessas mensagens. “É preciso cuidar da natureza porque é o que nos movimenta, movimenta o mundo. É respiração, é vida”, finaliza.
Uma live promovida pela campanha com a influenciadora e cicloativista Renata Falzoni tratou sobre essa temática. O evento online reuniu Rodrigo Vargas, coordenador de Comunicação do ICV diretamente da COP-26 e a especialista em um debate mediado por Júlia de Freitas, também do núcleo de Comunicação da instituição.
“O Brasil tem condições de ser uma potência do cicloturismo rural”, disse Renata na conversa, ao louvar a iniciativa da campanha de promover a pedalada. “Isso que vocês estão fazendo em Alta Floresta é tão óbvio quanto revolucionário. Criar um cicloturismo, fortalecer o pequeno produtor e fortalecer a a distribuição de produtos em poucas distâncias e com diversidade.”