Quinta-feira, 31 de Outubro de 2024

CIDADES Quarta-feira, 28 de Agosto de 2024, 14:02 - A | A

Quarta-feira, 28 de Agosto de 2024, 14h:02 - A | A

Combate ao feminicídio

Mostra fotográfica organizada pela primeira-dama de Cuiabá, Márcia Pinheiro, reúne autoridades e promove a reflexão

Da Redação do O Bom da Notícia com Assessoria

 

"Um dia antes do meu aniversário, no dia 29 de agosto, ocorrerá o julgamento de Luís Carlos, responsável por tirar a vida da minha irmã. Ela era minha companheira de todas as horas. Compartilhávamos tudo o que fazíamos durante o dia, sempre cuidando uma da outra. Após quase três anos de muita dor, o que esperamos é que ele pague pelo crime que cometeu. Eu acredito na justiça. No dia 15 de outubro de 2021, minha irmã brincou comigo, dizendo: 'Mana, você parece a Branca de Neve com seus sete anões'. O que antes era uma brincadeira, hoje é a minha realidade. Tenho que cuidar dos meus filhos e também dos filhos dela. A Fernanda era deslumbrante. Ela trabalhava duro e, mesmo quando estava doente, nunca faltava ao serviço. No trajeto diário para o trabalho, ela pediu aos meus sobrinhos que descessem em minha casa. Ela me ligou e disse: 'Mana, só me escuta'. Eu respondi, preocupada: 'Fer, você está bem?', porque a gente se falava todos os dias, a todo momento. Eu sempre perguntava: 'Como você está? Já comeu? Está bem?'. Era assim o tempo todo. Ela estava com a voz cansada e me pediu apenas para ouvi-la. Essas foram as últimas palavras que trocamos. Ela disse: 'Mana, você é mais nova, mas eu quero te dizer que te amo muito. Cuida dos seus filhos, cuida dos nossos filhos também. Eu também te amo, mana'.”

Essa foi a declaração emocionada de Flaviane Souza, irmã de Fernanda Regina Souza de Lana, vítima de feminicídio, durante a abertura da 1ª Mostra Fotográfica das Vítimas do Feminicídio de Cuiabá, realizada na manhã desta terça-feira (23) no auditório da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Mato Grosso (Fecomércio).

Com o tema "Feminicídio: Um crime contra a equidade. Por elas, lutamos!", a mostra foi promovida pela Prefeitura de Cuiabá, por meio da Secretaria Municipal da Mulher, com a organização da primeira-dama, Márcia Pinheiro, uma grande defensora do fim da violência doméstica contra a mulher. A exposição é composta por doze painéis, sendo onze deles retratando vítimas de feminicídio em Cuiabá (com autorização dos familiares) e um painel retratando o assassinato de Eliza Samudio, um crime que chocou o país, também com autorização dos familiares. A mostra tem o objetivo de sensibilizar a sociedade para o combate ao feminicídio.
“Quase encerrando minha jornada como primeira-dama de Cuiabá, faço uma reflexão sobre tudo o que vivemos e conquistamos ao longo desses oito anos de gestão. Criamos diversas políticas públicas para Cuiabá, que acabaram servindo de exemplo para todo o Brasil. Somos pioneiros em buscar formas concretas de apoio e transformação para as famílias que perderam entes queridos em casos de brutalidade e violência contra a mulher. A realização desta mostra e a criação de um programa de auxílio, que oferece um salário mínimo para os filhos das vítimas de feminicídio, são alguns dos exemplos do que alcançamos. Encerramos esse período com a certeza de que fizemos o nosso melhor, deixando um legado de esperança e apoio, especialmente nas políticas para as mulheres, para as futuras primeiras-damas deste município. Hoje, refletindo sobre tudo o que vivemos, destaco a importância da Primeira Mostra Fotográfica das Vítimas de Feminicídio em Cuiabá. Ela dá voz e visibilidade a histórias de dor que muitas vezes permanecem esquecidas. Cada fotografia aqui exposta é um testemunho de vidas interrompidas e um lembrete constante da urgente necessidade de lutar contra essa terrível violência.
Para apoiar as crianças que ficaram órfãs, relembrou Márcia Pinheiro, criamos o programa de auxílio aos filhos das vítimas de feminicídio, que se tornou referência nacional e acabou se transformando em lei. Esse programa oferece um salário mínimo mensal a cada criança, tentando minimizar a dor e as dificuldades enfrentadas pelas famílias afetadas, garantindo-lhes dignidade em suas novas vidas. “Em Cuiabá, não ficamos inertes diante dessa situação. Potencializamos o apoio às famílias e oferecemos todo o atendimento necessário para garantir que essas crianças possam ter um futuro mais seguro e próspero. A luta contra a violência e a promoção dos direitos das mulheres são tarefas que todos nós devemos assumir, exigindo o empenho de todos, como cidadãos, gestores e políticos. Agradeço a todos que estiveram ao nosso lado, na gestão humanizada do prefeito Emanuel e em nossa família nesta jornada. Juntos, conseguimos transformar a dor em ação e fazer a diferença na vida daqueles que mais precisam”, declarou a primeira-dama.
Presente ao evento, prefeito Emanuel Pinheiro, disse que as situações de violência contra a mulher ocorrem de maneira muito intensa, em contextos muitas vezes de difícil reparação, como dentro de uma família. Por isso, a sociedade deve estar atenta e agir em casos de violência contra a mulher, declarou o prefeito. “Não é apenas responsabilidade da vítima ou das autoridades; todos têm um papel, seja o vizinho, o parente, o amigo que desconfia dessa violência. É essencial que a sociedade se mobilize para garantir a proteção legal das mulheres, inclusive através de denúncias. A denúncia é um instrumento poderoso para trazer paz e justiça. Nosso objetivo é que essas políticas se consolidem como políticas públicas permanentes. Se são realmente políticas públicas, elas não pertencem a uma gestão específica, mas sim à sociedade cuiabana. Essas conquistas, que já ganharam repercussão nacional, como a criação de salas de acolhimento para mulheres vítimas de violência em unidades de saúde de pronto atendimento e urgência, além da ajuda financeira às crianças que perderam suas mães para o feminicídio, são avanços que não podem ser revertidos”, pontuou.

“Falando agora como gestor, ao lado da primeira-dama, estamos falando das vitórias e conquistas que colocamos em prática. Um exemplo é o pagamento de benefícios às crianças cujas mães foram vítimas de feminicídio, além do atendimento especializado à mulher no Hospital Municipal de Cuiabá (HMC) e na UPA Verdão. A grande questão é como garantir que essas políticas públicas continuem, não apenas nos próximos quatro anos, mas em administrações futuras de Cuiabá”, pontuou Emanuel.

A exemplo dos eventos envolvendo essa Mostra Fotográfica em outras Unidades da Federação, mulheres reconhecidas nacionalmente estiveram presentes para palestrar a respeito de temas pertinentes, como Marta Lívia Suplicy – Presidente Nacional da Virada Feminina, Luíza Nagib Eluf, advogada especialista na área criminal, Sueli Aparecida Ângelo Amoedo, advogada e líder jurídica do projeto Justiceira, e Dalva Cristofoletti Paes da Silva - Fundadora da Confederação Nacional dos Municípios. Marta Lívia Barragana Fernandes Suplicy, além de palestrante, participou como apoiadora do evento através do Instituto Virada Feminina, onde é Presidente Nacional. Além de conselheira da Confederação Nacional dos Trabalhadores Federais- CMTU.

Na oportunidade, ela falou sobre a importância da Mostra como uma ferramenta de prevenção ao feminicídio e conscientização sobre essa pauta.

"Criamos essa mostra exatamente há oito anos, e lembro que o Bruninho, filho de Eliza, era apenas um menino, um adolescente que esteve aqui com a mãe. O objetivo desta mostra é garantir que nunca esqueçamos esses crimes. Quando ocorre um crime dessa magnitude, somos imediatamente impactados ao assistir ao noticiário ou ao saber do caso. Mas, com o tempo, seis meses, um ano, dois anos se passam, e acabamos não nos lembrando mais. Não nos perguntamos o que aconteceu com os filhos dessas vítimas, como eles estão hoje. Essa mostra não apresenta apenas rostos; ela retrata situações que não podemos mais permitir. Não podemos deixar que essas histórias sejam enterradas com as vítimas. Devemos nos perguntar: o que podemos fazer para mudar essa realidade?”, declarou Marta.

"Márcia, pelas inúmeras vezes que você me pediu para nos engajarmos nessa luta, sou grata. Você me disse que estava terminando um mandato, mas queria começar uma cultura de não violência. Parabéns a você, porque entendemos que a responsabilidade é de todas nós, independentemente de gostarmos ou não umas das outras. O universo feminino não pode nos distanciar da equidade que buscamos. Precisamos deixar de lado as diferenças políticas e pessoais. Gênero não tem partido, cor ou lados. Gênero tem, sim, vulnerabilidade e falta de oportunidades, algo que só nós podemos mudar”, pontuou ela.

Outra personalidade atuante e autora da Lei do Feminicídio (nº 13.104 de 2015), Luíza Nagib Eluf, advogada especialista na área criminal, relatou os avanços obtidos: “Antes, os casos de feminicídio eram tratados apenas como homicídios comuns.

Mulheres eram assassinadas por homens que se sentiam donos delas, tratadas como mercadorias. Agora, com essa legislação, que reconhece o feminicídio como um crime específico, esses assassinos são condenados à prisão. Vou continuar combatendo incansavelmente essas tragédias cometidas contra mulheres que deixam filhos e netos órfãos. Eles precisam receber o castigo devido e carregar o peso de serem assassinos. Quando não existia a tipificação do feminicídio, não havia nem como punir adequadamente esses casos”, comentou Luíza.

Dando seguimento à programação, nos dias 28, 29, 30 e 31 de agosto de 2024 e 1º de setembro de 2024, das 10h às 22h, a Mostra estará no shopping Goiabeiras, no Corredor da Moda, 1º térreo. O evento é gratuito e estará aberto ao público em geral.

“Sabemos da importância dessa Mostra ser realizada em Cuiabá, por conta dos altos índices de violência contra a mulher apresentados em recente publicação do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, e nosso estado, infelizmente, é apontado como um dos mais violentos nesse contexto, em especial nossa capital, Cuiabá, onde atuamos com firmeza, buscando incansavelmente políticas públicas eficazes no combate a esse mal que dilacera o coração, fazendo sofrer tantas famílias desestruturadas quando têm uma vítima de feminicídio. Estão todos convidados a se unir a essa grande rede de luta”, finalizou a secretária municipal da Mulher, Cely Almeida.