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BRASIL & MUNDO Segunda-feira, 09 de Abril de 2018, 05:00 - A | A

Segunda-feira, 09 de Abril de 2018, 05h:00 - A | A

ONDE ESTÁ A ÁGUA NO BRASIL?

Especial mostra a disparidade dos recursos hídricos existentes no país

Agência Brasil

Ao todo, 80% da água superficial do país estão na Região Hidrográfica Amazônica que, por sua vez, apresenta baixa densidade demográfica e pouca demanda para uso. Por outro lado, no Semiárido, mais de 24 milhões de habitantes, distribuídos por 1.133 municípios entre o norte de Minas Gerais e a Região Nordeste, enfrentam uma realidade distinta, com períodos críticos de prolongadas estiagens.   “Nós temos uma questão de escala, somos um país continental, com a maior disponibilidade hídrica. No entanto, descendo as escalas de região, estado e microbacias temos um contraste entre a disponibilidade e as demandas”, explica o coordenador de Hidráulica e Irrigação da Unesp, o engenheiro Fernando Braz Tangerino Hernandez.  

 

Para o coordenador do relatório Conjuntura dos Recursos Hídricos de 2017 e de Gestão da Informação da Agência Nacional de Águas (ANA), Alexandre Lima de Figueiredo Teixeira, a "falsa sensação" de abundância e conforto de água no Brasil é eliminada, justamente, ao se analisar a distribuição dos recursos hídricos no território nacional. “No Nordeste semiárido, temos uma área vulnerável pela baixa disponibilidade. No caso de bacias em regiões mais metropolitanas, além da maior demanda e disponibilidade, há a concentração urbana que gera uma alta poluição dos corpos de água, inviabilizando os mananciais para abastecimento. No Sul e Centro-Oeste, a demanda de água para irrigação é alta”, afirma.  

 

A ideia é reforçada pelo geólogo e especialista em recursos hídricos da Universidade Federal do Pará (UFPA), Ronaldo Mendes. “O cenário de contrastes exige cuidados especiais, organização e planejamento na gestão da utilização da água, tanto pelos governos quanto pela sociedade civil”, destaca. “Cada bacia hidrográfica tem sua capacidade de abastecimento e a utilização do recurso deve estar atenta a disponibilidade hídrica”, alerta.  

 

Diante de um país tão rico em água doce, os desafios de gestão não estão espalhados de forma genérica por todo o território. O engenheiro e professor de Recursos Hídricos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Paulo Canedo, avalia que o semiárido nordestino, por exemplo, teve parte de seus problemas de escassez atualmente mitigados com a transposição do Rio São Francisco. Com relação à qualidade da água, no entanto, o especialista pondera que o Brasil está em uma situação bastante desagradável. “Boa parte dos recursos hídricos em áreas urbanas se perdem porque a água está em estado extremamente degradado. No interior, a água sofre uma degradação parcial, merece atenção, mas ainda não chega a ser calamitosa”, compara Canedo.  

 

HIDROGRAFIA NO CENTRO-OESTE

 

A Região Centro-Oeste do Brasil é abastecida por cinco regiões hidrográficas. São elas: Tocantins-Araguaia, Paraná, Amazônica, Paraguai e São Francisco. As duas primeiras cobrem a maior parte dos estados da região. Os principais temas enfrentados em relação à gestão hídrica na região estão relacionados a saneamento ambiental, abastecimento urbano, qualidade da água e desmatamento.  

 

O Distrito Federal está localizado nas cabeceiras de três regiões hidrográficas do país: Tocantins-Araguaia, Paraná e São Francisco. Em função da proximidade das nascentes, os mananciais possuem baixa disponibilidade hídrica para atender ao contingente populacional.  

 

O manancial do Rio Descoberto forma um lago que se constitui, atualmente, na mais importante fonte hídrica de abastecimento de água do DF. De acordo com a ANA, no DF, os atuais sistemas de produção necessitam do reforço de novos mananciais para o atendimento da demanda futura.  

 

Goiás, por sua vez, abriga nascentes de importantes regiões hidrográficas, como as do Paraná e Tocantins- Araguaia, além de conter uma pequena porção do território sobre a bacia do Rio São Francisco. Quanto aos mananciais subterrâneos, destacam-se os sistemas aquíferos Bambuí, Serra Geral e Bauru-Caiuá, do Domínio Poroso, e o Fraturado Centro-sul, explorado por vários municípios. Do total de sedes urbanas, 62% têm o seu abastecimento associado a mananciais superficiais.  

 

Cerca de 70% do território do Mato Grosso estão inseridos na Região Hidrográfica Amazônica (Sub-bacias do Juruena, Teles Pires e Xingu). As porções leste e sul do estado encontram-se nas regiões hidrográficas do Tocantins-Araguaia e do Paraguai, respectivamente. Segundo dados da ANA, a boa disponibilidade hídrica confere equilíbrio em relação ao tipo de manancial utilizado. Do total de municípios, 43% são abastecidos exclusivamente por águas superficiais, 41% por águas subterrâneas e 16% pelos dois tipos de mananciais. O sistema aquífero Parecis é a principal fonte hídrica subterrânea na região.  

 

Enquanto isso, Mato Grosso do Sul está inserido na Região Hidrográfica do Paraná (47,5% do território estadual), enquanto a porção ocidental fica localizada na Região Hidrográfica do Paraguai (52,5% da área total), que compreende o Pantanal Mato-grossense. O estado tem três grandes sistemas aquíferos sobrepostos: o Guarani, Serra Geral e Bauru-Caiuá.

 

“Diante disso, a maioria das sedes municipais, aproximadamente 79%, é abastecida exclusivamente por poços. Os 21% restantes também são abastecidos por sistemas isolados, com captações em mananciais superficiais, ou de forma mista”, aponta a ANA.  

 

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