Participar de uma campanha ao legislativo municipal é uma experiência única. Já na primeira semana, tive contato com pessoas de diferentes lugares, profissões, algumas com condição financeira acima da média. Mas também estive com uma grande maioria de famílias que não conseguiu alcançar a dignidade necessária para viver, construir projetos e realizar sonhos.
Ao longo desta caminhada, senti a alegria, a felicidade, o entusiasmo e o brilho nos olhos daqueles que vislumbraram as propostas que levei de melhoria nos serviços públicos, sobretudo para aquela faixa da população que normalmente fica à margem da vida digna que uma cidade deveria oferecer. Nessas pessoas, eu vi uma expressão de confiança, afeto e um clamor por mudanças.
O desejo de entrar na política não surgiu por acaso, é fruto de uma trajetória de 30 anos como servidora pública, professora universitária e voluntária da igreja. Em todos os espaços onde estive, sempre nutri o desejo de ajudar a melhorar a condição de vida das pessoas e construir uma sociedade melhor. Hoje, é isso que motiva a minha caminhada, querer mais uma vez ajudar.
Por outro lado, tem algo que está me preocupando muito neste momento: o silêncio dos bons. São aqueles que normalmente possuem maior formação, mais acesso à cultura e educação, que tem condição de fazer críticas, apresentar sugestões sobre o que a cidade precisa e, assim, orientar os candidatos. Mas, ao contrário do que se espera, essas pessoas estão caladas e muito provavelmente não irão votar.
Fico preocupada porque me coloco no lugar de alguns desses cidadãos que estão ocupando hoje um lugar de privilégio na sociedade, afinal, sou uma mulher branca, tenho curso superior, condição alcançada por menos de 19% da população brasileira, possuo trabalho com salário acima da média da maioria das pessoas da minha categoria profissional e uma carreira construída e consolidada.
Ter consciência do meu lugar me impeliu a pensar e trabalhar pelo bem comum. Faço essa reflexão conclamando os cidadãos e as cidadãs que preferem o conforto das suas casas e evitam participar da política. Quero lembrar que tudo é político, sendo assim, é de vital importância que ofereçam apoio àqueles e, principalmente, àquelas, já que nós, mulheres, somos uma minoria, que se propuseram a fazer esse trabalho de estar na linha de frente. Colocaram “a cara a tapa”.
Na eleição de 2020, uma reportagem de um veículo de imprensa local dizia o seguinte: “Abstenções, brancos e nulos vencem a eleição em Cuiabá”. O total de eleitores que não foi às urnas ou não escolheu nenhum candidato chegou a 109 mil e ultrapassou a quantidade de votos recebida por cada um dos candidatos a prefeito, que oscilou entre 90,6 mil e 82,3 mil.
Diante desse contexto complexo que pode retratar um misto de desesperança, apatia e rejeição à política por parte dos eleitores de Cuiabá, senti a necessidade de trazer essa reflexão. Quero destacar que a participação de todos vocês é extremamente importante para o futuro da nossa cidade e para todas as melhorias que podemos construir juntos.
Viver em sociedade é uma experiência política, e quem não quer participar, vive as consequências disso a partir de ações políticas que não condizem ao esperado ou que beneficiam apenas uma parcela da sociedade. Tem uma frase do ativista pelos direitos humanos norte-americano, Martin Luther King, que diz assim: “O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons”.
Cuiabá possui 445.070 eleitores aptos a votar. Por favor, não vamos repetir os erros do passado. Ainda dá tempo. Converse com pessoas, com familiares, amigos, apresente propostas ao seu candidato, venha decidir junto. Sua opinião e o seu voto contam muito! A única forma de melhorar a nossa vida na cidade que amamos é fortalecendo a importância da participação popular, e da qualidade do voto!
Marisa Helena Alves, psicóloga, mestre em Psicologia pela Universidade Católica Dom Bosco, especialização em Saúde Mental, Psicanálise e Educação na UFMT, e candidata a vereadora por Cuiabá.