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Após dois anos e 5 meses da morte de Rodrigo Claro, de 21 anos, que morreu no dia 10 de novembro de 2016 na Lagoa Trevisan, em Cuiabá, em um treinamento do Corpo de Bombeiros, foi realizada a segunda audiência do caso, na 11ª Vara Criminal Militar de Cuiabá, no Fórum de Cuiabá.
A tenente do Corpo de Bombeiros, na época instrutora de Rodrrigo Claro, é suspeita de participar diretamente da morte do aluno do 16º Curso de Formação de Soldado Bombeiro de Mato Grosso.
De acordo com várias testemunhas, maioria ex-alunos que fizeram o curso com ele, Rodrigo teria sofrido uma sessão de tortura com caldos e humilhações. Rodrigo teria engolido muita água e vomitado bastante na beira do lago.
Por conta das fortes dores de cabeça acabou indo à Policlíncia do Verdão, onde foi verificado que seu caso era grave. Prova disto, que foi transferido para o Hospital Jardim Cuiabá e cinco dias mais tarde acabou morrendo por conta de um aneurisma cerebral.
Rodrigo já vinha comunicando à mãe as constantes perseguições da tenente Ledur contra ele. E que teria sido vítima em várias ocasiões de sessões de afogamento. Ou seja, a prática de Ledur contra o aluno era comum. Estas sessões de castigos intensos foram confirmados por outros alunos que estiveram no curso com Rodrigo Claro.
O jovem, no dia em que acabou passando mal e foi parar na policlínica, teria mandado uma mensagem no celular de sua mãe, de acordo com a própria Jane Claro, que vem repetindo esta história em todas oitivas nestes mais de dois anos, como um mantra, frisando ainda que o filho lhe teria dito que estava com medo da aula da tenente e que estaria com um pressentimento ruim.
Já o coronel do Corpo de Bombeiros, João Rainho Júnior que foi nesta segunda à primeira e única testemunha de defesa da tenente Izadora a ser ouvida, na audiência sobre a ação penal que Ledur responde pela morte do ex-aluno Rodrigo Claro, revelou que 'xingamentos, pressão psicológica e os caldos são normais nos treinamentos do Corpo de Bombeiros'.
Aliás, repetiu isto várias vezes em seu depoimeento em sessão que durou pelo menos três horas.
“Todos os alunos passam por dia de cão, pressão psicológica para testar. Nós usamos vários termos, inclusive o acochambrador, que é quando o aluno faz corpo mole, são xingamentos normais. Já as nadadeiras eu mesmo utilizei para bater nas águas. Reclamar que encostou a nadadeira é mimimi”, ainda disse.
O coronel confirmou ainda que é obrigação do instrutor tornar o cenário o mais real possível, sem mencionar que Ledur, no entanto, no caso de Rodrigo Claro, tornou a prática corrigueira contra Rodrigo.
Rainho, que também foi instrutor, disse que os métodos utilizados nas aulas, inclusive o uso de nadadeiras para “acertar” os alunos, como fez a tenente Ledur, 'são corretos'.
O oficial destacou que os ‘caldos’ são corriqueiros na disciplina de salvamento aquático, pois era uma 'simples simulação de um afogado consciente'. ainda elogiando Ledur, que foi uma das alunas formadas por ele.
“Faltando 20 dias para formação, eu faria a mesma coisa. O cara tem que dar resposta, pois na rua não vai ter ninguém para dizer para não ficar nervoso. A obrigação do instrutor é tornar mais real possível o cenário que ele vai encontrar”, afirmou
A tenente comparecceu à sessão de instrução uniformizada e ao entrar bateu continência aos juízes militares que compõe o conselho de sentença.
Audiência
Desde que entrou com atestados médicos [ao todo 13], sob a alegação de depressão, a tenente Ledur revelou que estaria impossibilitada de voltar as atividades e, igualmente, de responder ao Conselho de Justificação do Corpo de Bombeiros. Conselho que decidirá pela exoneração ou não.
O primeiro atestado médico apresentado pela tenente foi no dia 20 de dezembro de 2016.
Ela só será ouvida após depoimentos de todas as testemunhas.
Nesta segunda, diferente dos últimos dois anos, desde a primeira audiência, Izadora Ledur acompanhou o depoimento. Ela deve ser ouvida no próximo dia 30, já que os depoimentos previstos para terminarem hoje devem se alongar. Além de hoje, outros três dias foram definidos para realizar as próximas audiências com as testemunhas de defesa, sendo 22, 29 e 30.
Testemunhas
Coronel João Rainho Júnior – já ouvida.
Major Danilo Cavalcante Coelho
Primeiro-tenente Felipe Mançano Sabóia
Primeiro-Tenente Daniel Alves Moura e Silva
Primeiro-Tenente Janisley Teodoro Silva
Primeiro-sargento Marcizio Oliveira Moraes
Soldado Rafael do Carmo Lisboa
Entenda o Caso
Rodrigo Claro morreu no dia 15 de novembro de 2016 após participar de treinamento e atividades aquáticas, pelo 16º Curso de Formação de Soldado Bombeiro do Estado de Mato Grosso. Segundo denúncia do Ministério Público, a vítima foi submetida, por várias vezes a sessões de afogamento durante a travessia na lagoa, sob o comando da tenente Ledur, o que resultou na sua morte.
Ledur responde também processo criminal, por tortura com resultado morte, na Justiça Militar. Na próxima semana, por sinal, serão ouvidas as últimas testemunhas e está marcado também o depoimento da acusada. A tenente ficou mais de 700 dias de licença médica após a morte do aluno. Voltou recentemente para a corporação e tenta a promoção para capitã.
A bombeira voltou para a instituição em junho de 2018, como forma de evitar de ser aposentada por invalidez. Já que o estatuto dos militares é bem claro que se um militar permanecer afastado por mais de um ano contínuo, em licença para tratamento de saúde, será agregado .
Em 2018, o ex-governador Pedro Taques(PSDB) assinou com publicação no diário oficial atestando que se Izadora não retornasse as atividades após dois anos contínuos poderia ser exonerada e aposentada por invalidez.