Jornal A Gazeta
O coordenador e instrutor sargento Marcizio de Oliveira Moraes foi a terceira testemunha de defesa a ser ouvida na audiência de instrução, do processo da tenente Izadora Ledur, que responde por tortura durante treinamento aquático no curso de formação que resultou na morte do aluno Rodrigo Claro, em 15 de novembro de 2016.
Ainda faltam ser ouvidas outras três testemunhas e no dia 30, enfim, será o depoimento de Ledur.
O sargento afirmou em depoimento que denúncias da atuação de Ledur existiam inclusive em vários outros cursos. Pois a oficial era conhecidamente exigente. E que é comum que as metas exigidas no curso sejam mal interpretas por um aluno, ainda segundo o sargento. Lembrando que esta sensação de 'perseguição' chegou a resultar, inclusive, em sindicância como ocorreu também com ele após ser denunciado por alunos.
“Todo curso tem aluno que se sente perseguido. Quando o aluno tem dificuldade é normal cobrar. Muitas vezes o aluno interpreta que a gente quer pegar no pé. É natural ter nervosismo, mas fazemos o preparo do aluno”, ressalta.
“ Janete Claro disse que seu filho, Rodrigo, teria lhe dito, no dia que passou mal, que estava com medo da aula da tenente Ledur e que estaria com um pressentimento ruim ”
O sargento foi uma das três testemunhas de defesa ouvidas na terceira audiência de instrução, realizada na última terça-feira (16). Ele confirma que fazia parte da coordenação, tendo contato direto com a oficial.
“Ela era uma tenente exigente, assim, muitos interpretavam de maneira equivocada, mas no decorrer do curso entendia”, alega.
Já quanto ao aluno Rodrigo Claro, apesar de não fazer parte do mesmo pelotão coordenado por Moraes, o sargento diz que o conheceu. Disse ter percebido que ele era nervoso e apreensivo quando envolvia instruções com água. “Quando o aluno tem dificuldade tentamos repetidas vezes até que ele consiga. O militar é treinado para superar as adversidades”.
Em relação aos caldos, o instrutor diz que não são instrumentos de tortura, mas para submeter o aluno a uma situação de estresse e para que ele possa vencer o emocional, se desvencilhar e fazer um salvamento.
Já de acordo com várias testemunhas, maioria ex-alunos que fizeram o curso com Rodrigo Claro, ele teria sofrido uma sessão de tortura com caldos e humilhações por parte da tenente. Um pouco antes de morrer, Rodrigo teria engolido muita água e vomitado bastante na beira do lago.
E por conta das fortes dores de cabeça acabou indo à Policlíncia do Verdão, onde foi verificado que seu caso era grave. Prova disto, que foi transferido para o Hospital Jardim Cuiabá e cinco dias mais tarde acabou morrendo por conta de um aneurisma cerebral.
Rodrigo já vinha comunicando à mãe as constantes perseguições da tenente Ledur contra ele. E que teria sido vítima em várias ocasiões de sessões de afogamento. Ou seja, a prática de Ledur contra o aluno era comum.
Estas sessões de castigos intensos foram confirmados por outros alunos que estiveram no curso com Rodrigo Claro.
O jovem, no dia em que acabou passando mal e foi parar na policlínica, teria mandado uma mensagem no celular de sua mãe, de acordo com a própria Jane Claro, que vem repetindo esta história em todas oitivas nestes mais de dois anos, como um mantra, frisando ainda que o filho lhe teria dito que estava com medo da aula da tenente e que estaria com um pressentimento ruim.
O choro de Ledur
Durante depoimento da segunda testemunha, com a divulgação de um vídeo de formação de alunos, a tenente Ledur começou a chorar. No vídeo, alunos apareciam entoando o grito de tenente “Ledur maluca”.
Na explicação do soldado Rafael do Carmo Lisboa, aluno de Ledur, e um dos que estava no vídeo, diz que o lema era para mostrar a vivacidade e admiração que tinham pela oficial.
Entenda o Caso
Rodrigo Claro morreu no dia 15 de novembro de 2016 após participar de treinamento e atividades aquáticas, pelo 16º Curso de Formação de Soldado Bombeiro de Mato Grosso. Segundo denúncia do Ministério Público, a vítima foi submetida, por várias vezes a sessões de afogamento durante a travessia na lagoa, sob o comando da tenente Ledur, o que resultou na sua morte.
Ledur responde também processo criminal, por tortura, resultando em morte, na Justiça Militar. Na próxima semana, por sinal, serão ouvidas as últimas testemunhas e está marcado também o depoimento da acusada. A tenente ficou mais de 700 dias de licença médica após a morte do aluno. Voltou recentemente para a corporação e tenta a promoção para capitã.
A bombeira voltou para a instituição em junho de 2018, como forma de evitar de ser aposentada por invalidez. Já que o estatuto dos militares é bem claro que se um militar permanecer afastado por mais de um ano contínuo, em licença para tratamento de saúde, será agregado .
Ledur entrou com atestados médicos [ao todo 13], sob a alegação de depressão, assim, revelando que estaria impossibilitada de voltar as atividades e, igualmente, de responder ao Conselho de Justificação do Corpo de Bombeiros. Seu primeiro atestado médico foi no dia 20 de dezembro de 2016.
Ela só será ouvida após depoimentos de todas as testemunhas.
Em 2018, o ex-governador Pedro Taques(PSDB) assinou com publicação no diário oficial atestando que se Izadora não retornasse as atividades após dois anos contínuos poderia ser exonerada e aposentada por invalidez.